sábado, 6 de dezembro de 2008

Téo e a gaivota


É preciso se projetar na gaivota.

É hora de sentar na beira do mar, ficar observando os movimentos do mar e analisando o jeito com que a gaivota leva a sua vida. Andar sem sapato, usar bermuda e exercitar o dom de lidar com os ventos contrários. Não me preocupar com o futuro e fazer uso do telefone, pra matar a saudade dos que valem.

Dizer pra amiga de Brasília que as músicas estão sendo feitos. Dizer pro Renan que as férias ainda não acabaram, que ainda temos muito Bacardi por beber. Ao amigo de sempre, que eu vou sentir muita falta dos últimos dias. Ao nariz da Marcela, que se cuide!

Vou sentir falta desses, dos outros, das outras. É, vou sentir.

E daqui, do alto dessa pedra com vista pro mar, eu digo que a vida me parece bem melhor. Gaivotas planando, ao sabor do vento. Garotos correndo, pessoas bebendo na praia e o futebol acontecendo. Aqui a vida acontece, de fato. É preciso muito pouca força pra fazer algo, principalmente ao escrever. É se deixar levar, entrar em um estado de relaxamento e deixar a coisa aparecer, sem muitas escolhas ou atenção. É um processo relevador, mostra quem de fato eu sou e como de fato eu escrevo. Sem medir, sem julgar muito.

Tudo me parece meio devagar, e o cheiro salgado das coisas já começa a entrar no costumeiro. Caminhos de pedra, balanços do mar, guitarrinhas com um molejo caribenho, jeito despreocupado, e a barba já começa a denotar tal fato, e uma vontade fora do normal de sair andando sem rumo, como sempre.

Encerro por aqui, amigos. Escrever, pensar nas coisas que me esperaram ao chegar em casa e comtemplar a vista que nem parece real...

Sem pensar em ser mais que o comum, nem menos que necessário. Apenas em não ser, não existir, não precisar ser ou existir. Apenas me preocupar em descobrir mais, saber mais, ver, pensar e escrever. Muito mais.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

o caminho do bem

acordar com a bendita música na cabeça, não saber o que dizer. organizar sua vida, acima de tudo. colocar tudo no eixo, mesmo que esse eixo não exista e você tenha uma simples noção na sua memória. está na hora, é agora.
os últimos três dias geraram uma leseira altamente improdutiva. preciso acordar, de um café. o corpo todo, todo mesmo, parece estar em alfa. não sei a razão, nem se há razão, mas eu fiquei bem diferente depois da noite racional, no sábado. a cabeça, o corpo, o jeito de ver. foi a primeira vez que eu acordei em paz, totalmente em paz.
voltou o brilho dos meus olhos
voltou a paz interior
no universo em desencanto
que reencontrei com muito amor
racional

e se você acha que é loucura, ou falta de afazeres, se engana.
seja em guiné-bissau, moçambique ou angola, o que vale é estar numa relax, numa tranquila, numa boa.

domingo, 2 de novembro de 2008

quarta-feira, 15 de outubro de 2008


Little Joy
With Strangers

bet you're wondering how i knew
that this would come to an end
he stole your heart from you
so you tossed me out to the wind

i keep pretending not to care
compels my hands to do
the things my heart wouldn't dare

i'll keep holding on to you
see no use perfecting lives with strangers
if only you, if only now

and in the twilight of this hour
when fools are mistaken for men
this shadow suits me well
my regrets are faced in the end

i'll keep holding on to you
see no use perfecting lives with strangers
if only you, if only now

i'll keep holding on to you
see no use perfecting love with strangers
if only you, if only now

É música com clima noturno, andando de carro pela cidade com o cotovelo pra fora. Acho que é a mistura de coisas californianas, cariocas e caribenhas que acentua o 'deixa acontecer' da melodia e manda a pressa pro outro lado da rua. Parece um resultado musical da amizade mais longa que já existiu, mesmo que essa duração seja medida pela intensidade e pelo carinho empregado envolvido na, mesmo que pouca, vivência.
Sorrisos se abrem com umas, fecham-se com outras; poderes conferidos aos que não se preocupam muito com o sentido das coisas, nem com o tamanho dos pêlos no rosto.

domingo, 12 de outubro de 2008

ainda contém erros de português

escrever se tornou algo raro na minha rotina. é, se tornou. o velho ideal de publicar alguma coisa, de ter meu nome estampado na capa de alguma merda que ocupe um lugar no armário da sala, sabe como é? sempre nessa mediocridade ambulante, nesse marasmo que não acaba, nem fica menor. quanto mais idiota você é, mais fácil é.
os idiotas, em geral, vivem bem. já notou isso? eles são tão burros que não conseguem ver além do próprio ego, ou da própria barriga. os idiotas não deixam a barba crescer, preferem ter a face limpa e irritada. gosto do cheiro de perfumes caros, sempre usam bastante na região dos pulsos e pescoço.
idiotas não julgam ações alheias por meio de parâmetros, apenas julgam. idiotas não possuem, ao menos, um parâmetro.
toda essa introdução, todo esse circo... simplesmente pra dizer que eu ando cansado, sem forças. não conseguir me relacionar, não conseguir estudar ou trabalhar direito. casos ainda não resolvidos do passado cercam meus pensamentos, minhas ações. sinto tudo meio confuso e sem um caminho definido, principalmente quando o assunto é a bendita garota da qual eu penso gostar. dileminhas adolescentes pra você? é, você precisa de parâmetros.
mulheres, amigo, deixam qualquer um sem saber o caminho. sem saber, se quer, qual o próximo passo.
pois é, pois é. que saudade do tempo que eu ''namorava'' uma louca que mora do outro lado do país, e que não me torrava a paciência por conta do minha falta de zelo, ou por eu beber demais. que saudade! ela me entendia, me ligava, escutava meus lamentos e ainda me achava bonito. é, é verdade, ela achava. era meio louca, como eu disse, mas era melhor que a maioria das loucas que eu conheço. conhecer alguém exige contato visual? vai saber...
enfim, queridos leitores de merda, eu pouco me fodo para o acesso desta bela página. não a abria há algum tempo, e ela não faz muita diferença no meus dias.
já disseram que meus textos são sujos, que são melosos demais, que são baseados demais no velho hank... já disseram, até, que eu preciso parar de escrever. mas, amigo, foda-se.
acabo de voltar de um desgastante futebol com os amigos, meu corpo parece que passou por uma máquina de moer carne. não sei se alguém já sentiu isso, mas nessas horas um banho é recomendado. é, e é mesmo.
enfim, obrigado pela atenção jogada fora. só mais uma coisa: little joy é a melhor banda que eu ''descobri'' esse ano. e nem saiu o disco inteiro!

sexta-feira, 26 de setembro de 2008



é de se entregar a sorte, e todo mundo vai saber em ver

que o vai e vem pode ser eterno

pra ver quem manda

acho que não vai dar, tô cansado demais

vou ver a vida a pé.

acho normal

tá no mundo feito faz o mar num grão de areia.


quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Boa Sorte!

No caminho de casa, eu sempre venho formulando teses e argumentos. O bom de se falar sozinho é que sempre ganho! Meu argumento é sempre vitorioso.
E assim você se foi, como num debate solitário.

- Mas ela quer, parece;
- E a outra? Ela sempre quis, e diz.


É, eu estava certo. Mais vale um casaco na mão do que vinte e cinco casacos voadores.
Aparei minha barba, deixei o bigode um pouco maior. Coloquei uma das camisas novas, e comprei uns cigarros de marca nova. O Rafael comprou um pedal novo, que faz uns efeitos legais. Uns barulhos de chuva, sabe? Em breve, estaremos tocando novamente por aí.
E quanto ao que sentia, e sinto, vai morrendo. Mas eu vou deixando de pé, para que não se faça de sonsa outra vez. Não avisei, nem dei sinal. Só fui.

Se enganei, ou iludi, desculpa. É que eu sou assim mesmo, meio de não me apegar. E espero que a chuva possa nos colocar perto um do outro em algum outro carnaval.

O tempo é seco, não chove. E setembro continua sendo o melhor dos piores meses.
O sol ensolará a estrada dela.

domingo, 3 de agosto de 2008

crônicas de um sujeito louco - parte I

centro da cidade, madrugada de sexta para sábado. encontrei uns amigos, bebemos umas duas ou três cervejas e fomos ao café central. lá eles servem cachaça, daquelas bem amarelas. é uma beleza!
lá nós bebemos bastante, saí meio alto. bebemos mais cerveja, e eu estava fumando sem parar. a noite tinha tudo pra acabar mal, pra acabar em uma calçada, perto do centro. não sei como fiz, e nem como pensei naquilo tudo. fiz, fui até lá.
pensei: chegar essa hora e tocar o interfone da casa de alguém é meio estranho, mas eu não vou voltar. estava na porta, e tinha caminhado bastante. precisava sentar e conversar, mesmo sem bebidas. ''você bebeu, não é?''; lógico, eu não sou naturalmente corajoso. quem é?
ela ainda faz piadinha, sobre a minha insegurança.
pois bem, deu certo. só lembrava do último número do apartamento, mas o prédio tinha seis andares. liguei em todos. até que uma voz meio acanhada atende, tentando entender o acontecido. meio louco, eu sei. ''tudo bem, tô indo aí!''; e foi.
deu vontade de sorrir, de cantar, de ficar olhando pro teto com a mão na barriga e não segurar a risada. não foi a minha maior loucura, mas chegou perto, bem perto, das maiores. alta madrugada, seus pais em casa e tudo mais ao meu favor. exceto aquele carro, que ficava rondando o prédio.
pena que os dias passam rápido, e que os intervalos apagam aos poucos as sensações. merda, o tempo tinha que correr mais devagar. noites como aquela nunca acontecem duas vezes ao mês.
o jeito de falar não é o mesmo de antes, e as palavras engraçadas já não são mais engraçadas.
usar falas de filmes passou a ser normal, e a gente precisa de mais um filme, sabe como é?
''você já me conhecia nessa época?'';''há muito tempo a gente se fala, né?''
e eu acreditaria em você, pode ter certeza. sucess full, saca?
eu fiquei meio surpreso, lógico. mas eu acreditei. e vou continuar acreditando, enquanto você abrir o portão de madrugada e sentar pra conversar comigo.
e dá vontade de sentar e ficar ali, comentando as coisas idiotas da vida. sem ver o tempo passar, e rindo da sua cara de preocupada.
eu não vou morrer de tanto beber, nem vou ser assaltado quando estiver voltando pra casa. não vou ter problemas por conta do cigarro, nem pegar uma gripe gerada por falta de roupa e excesso de frio.
fica meio complicado terminar com uma frase de efeito, ou com um bordão do cinema, ou com um trecho de música. é melhor ficar calado, olhar pro lado e imaginar que do outro lado da cidade há alguém importante. alguém que eu gosto, que me importo e que sempre me fez bem, mesmo quando fazia mal.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

adeus vocês, enfim!

eu te aplaudo em pé.

norteando sua sorte pelo acaso que mais a alumia
mila toma assim a rédea de não se render à mira
com a pureza mais despida à vista, ela avista o bem
no mói do mundo bem no mói do mundo
que bem no mói do mundo
mila luziluziu com a dor

terra seca e cheia de abertos corredores, com azul na parede e branco nas vestes. nada mais.
do par, do singular. pra quê arrebanhar o vasto? desinventar o dito par é fácil, é só remontar e um dois do par virá dois um. deus, às estéticas. com ela, em qualquer tom. vistando, descobrindo, indo até maringá. registrar, memorizar. dizer algo, entregar o dito e passar adiante. se levar adiante. agora eu já sei, o caminho é fácil, continua. se levar adiante.

mila realmente luziliziu com a dor. a terra do café secou, ficou fraca. mas fez brotar um verde novo, sem sombra negra ou cinza. e esse verde vai ser mais belo, mais forte. vai existir. vai ser como a poesias sobre o barro, da amiga de terras candangas. é como naquele caso, em cuba, que marcaram o passaporte e disseram: ''post secret!''
o post secret cubano era um borrão de tinta, sobre uma história cheia de linhas e cores.
você me avisar, me ensinar. o clipe do homem fazendo a barba.
nem sei quantos meses foram. sete, oito? por aí. mais ou menos, por aí.
mas, que não more dúvidas, eu ainda vou existir. num brilhar de uma lata, no sorriso de lado. do estar bêbado, com a mão no queixo. try, try, try; com o olho baixo. o vocalista careca nunca me pareceu tão bom. isso nunca aconteceu.
sinceramente, preciso de mais uma cerveja.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

''e que dia é o pagamento?''

tudo acabou dando certo. no final, deu certo. sou um sujeito mais certo, consegue ver? tenho um emprego. só vou precisar dele por um mês, mas é um emprego. o meu primeiro emprego, diga-se de passagem. e eu acabo de entrar de férias, também. aprovado, em tudo. falta? é. mas, mesmo assim, a decisão foi acertada. mas, preciso dizer que faz falta. bastante.
a lembrança não é das melhores. aliás, é bem ruim. um papel rabiscado, com um disco quase completamente arranhado. não trabalhava até semana passada, não havia como comprar nada. fiz na hora.
vou bem. estou me exercitando, voltei a comer carne e quase não fumo. cortei o cabelo e estou deixando a barba crescer. passei a arrumar briga no futebol, quase que diariamente. acho que vou comprar um tênis novo, assim que receber meu pagamento. o meu furou, bem no solado. e um óculos também. o meu já tá meio velho, tem uns três anos que eu uso o mesmo.
quero um casaco novo, também. e umas blusas, daquelas de botão. quero voltar a usar brinco e fazer outro festival, em setembro. até lá eu terei um bom dinheiro, e não passarei pelo mesmo despreparo que passei nesse. enfim, vou levando. e você, como vai? pedi a foto, mas você não mandou. nem escreveu. nem retornou aquela ligação, no meio da noite.
o pior de tudo, é que eu sinto a sua falta. acredita? sinto. e é meio vergonhoso dizer isso. não fico triste, nem choro pelos cantos. sou o mesmo de sempre. mas, quando fico sozinho, acabo lembrando. no show daquele seu amigo, lembrei o tempo todo. mesmo estando com outra pessoa.
e é diferente, né? nunca viverão nada parecido, mesmo sendo tão clichê a ponto de acabar desse jeito. eu só queria escrever umas linhas, colocar uma foto bonita e dizer que estou feliz, por estar empregado, de férias e sem gripe. depois que comecei a tomar vitamina c, nunca mais acordei com o nariz escorrendo. é. nojento, mas real.

domingo, 18 de maio de 2008

john coltrane - i want to talk about you - 1962

acordar meio lerdo, com a cabeça pesada e com o corpo tremendo de frio. colocar o disco mais antigo do john coltrane na vitrola, deitar no sofá e ficar olhando pro teto. de vez em quando ir até o quarto pegar o celular e ler a mensagem da noite passada. ficar revivendo um quadro de lembranças que não passaram de voz, imagem e sentimentos.
mas, nem foi preciso mais nada. foi aquilo, representou aquilo e em mim durará por muito tempo. era bonito, sabe? e nem 'existia'. eu acho que seu medo morava em estragar aquilo que parecia tão bom. você é mesmo muito esperta.

e quem dirá que existiu? todos me dizem que devo ir pelo caminho mais simples, mas você sabe como funciona. é melhor assim, é mais divertido e contra o pensamento comum. e por você... ah!vou usar aquela frase que usei uma vez, mas você nem notou. por você, faria isso mil vezes. lembra do livro? acho que não.

você ainda mora aqui, mesmo estando cada vez menor.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

caixa de recortes

dia de abrir a caixa. ver as cartas antigas, os flyers de shows, os ingressos de jogos, o poster do millencolin, as fotos de quando eu gostava ainda mais de hardcore e todos os registros toscos que eu fazia.
achei um, dentro de um livro de bolso do bukowski, que é bem antigo. acho que eu tava no segundo grau, ainda. deve ter mais de três anos. é o antigo número de telefone de uma garota, que ela anotou no flyer de um show. aquela mesma garota que eu namoraria, um ano depois. um flyer tosco, mal feito. quando eu fui embora ela me deu o papel meio dobrado, com um pouco de vergonha. o telefone da amiga gordinha dela tava lá, afinal era a amiga dela que se interessava por mim, não ela.

enfim, lembranças. pessoas precisam passar pelas nossas vidas, é fato. elas deixam algumas marcas, algumas palavras, alguns sentimentos, algumas fotos, alguns pedaços de grama recolhidos no jardim do aeroporto...

é, deixam. colei todos os flyers, set-lists, bilhetes, cartas e cartazes nas paredes do meu quarto. até no teto! meu quarto agora é uma grande caixa, totalmente forrada de recordações. mas, a mais nova, a mais olhada, a mais mostrada, a mais mais é uma foto que eu mandei imprimir lá no fujioka. tava na minha pasta, que eu levo pra universidade, mas eu colei na parede. infelizmente, agora ela faz parte da caixa, das lembranças e do passado. mas ela vai estar ali, como um ponto no meio de toda a pintura que se tornou meu quarto.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Calma!

Está tudo bem acho que sempre foi assim
Nada pra sentir espero outro dia vir
Eu quero te ligar, eu quero algo pra beber
Algo pra encher, algo que me faça acreditar

Sempre ausente, me faz sorrir
Sempre distante, dorme aqui


quarta-feira, 23 de abril de 2008

joão nogueira e a primeira pessoa do verbo cair

verbo cair, na primeira pessoa do singular. eu caio. é, eu caio. caio. caio. caio. tento levantar, mas escorrego e caio, outra vez. e caio mais, quando começo a escorregar no chão molhado do meu corredor. joão nogueira, aquele sambista, dizia que quando se encontrava em crise ia até o banheiro mais próximo, ligava o chuveiro e se colocava em posição fetal, pelo tempo que aguentasse. e é isso que sempre faço. fico lá, deixando a água cair na nuca, escorrer pelo corpo e descer pelo ralo. e, como o mesmo joão nogueira dizia, é com a queda que a casca se forma.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

o dia que o céu chorou

você não pode partir assim, meu amigo. você não pode. quem vai segurar a minha mão e me acalmar? você, meu amigo, é tudo de mais verdadeiro e real na minha vida. você viajou pelos quatro cantos do mundo, provou todos os sabores que eu sempre sonhei. provou que ser grande é bem mais que ter mais do que um metro e sessenta. você, baixinho e forte. forte como uma rocha, diga-se de passagem! a gente já conversou sobre a vida, várias vezes, e você sempre dizia que a morte é o último ato. diz sempre que morrer é algo que necessita de arte, de cor, de muito além do que a gente vê diariamente. você, meu bom amigo. você é o sujeito mais durão que eu conheço, acredite. é muito maior que eu, sabe? é forte, é brilhante. consegue olhar pra mim, com o rosto banhado em lágrimas, e dizer um ''o que foi, filho?'' tão doce e, ao mesmo tempo, tão duro!
é inveja mesmo o que eu sinto quando você conta as histórias que viveu na venezuela. é muita inveja o que eu sinto quando você conta que já acampou por aí, sem dinheiro no bolso e sem muita coisa na cabeça. você, que sofreu na época da ditadura e que foi obrigado a dar aulas em escolas vigiadas, pra não morrer de fome. você, meu amigo, que abriu a porta aquele dia e disse que tudo iria ficar bem. pegou na minha mão, chorou junto comigo e saiu. se você for, meu grande amigo, não sei o que vou fazer. realmente, não sei. força, viu? conte comigo, assim como eu sempre contei com você. afinal, como você sempre diz, somos nós três. você, eu e o meu irmão. fechados.

sexta-feira, 28 de março de 2008

"é gol, porra!"

os versinhos martelando na cabeça, os olhos levemente marejados, a cabeça pesada por conta da falta de sono e o peso nos ombros. acordei desesperado, por conta do horário. totalmente cansado, por conta do futebol de ontem. derrotar aquele time foi muito bom, acreditem! júlio, felipe e eu, em uma perfeita sincronia. os gols saiam, saiam acompanhados de gritos carregados de raiva, a camisa foi ficando ensopada e o desgaste não passava de uma dorzinha, que nem chega a ser relevante.

- é o último aviso do meu time, pare com essas gracinhas!
- que nada, gordinho... tira esse dedo da minha cara e joga calado.
- você tá muito marrento!
(...)
- júlio, e se ele me bater?
- que nada, bicho... ele nunca vai encostar um dedo em você, eu não deixo.
- foi muito bom ganhar desses otários, cara. que gol lindo, ein?
- já vou dormir feliz!

e foi asssim que eu arrumei a primeira briga no meu prédio, depois de algum tempo sendo o cara mais pacato de todos. mas, qual opção eu tinha? eu não fiz gracinha, só tava jogando um pouquinho mais solto e fazendo gols que geralmente perco. é, ontem eu me senti o sujeito mais invejado daquela quadrinha. não pelos gols, muito menos pelos passes, mas pelos amigos que tenho. grande barba ruiva, viu? acho que vou lembrar da noite de ontem pro resto da minha vida.
mas, como tudo sempre tem seu lado ruim, hoje eu noto que perdi a carteirinha do setransp. é, eu sei que foi falha minha. devem ter achado a carteirinha, com todo o crédito que coloquei. não vou mandar cancelar, lógico. a pessoa que achar, se achar, deve ficar muito feliz. e mesmo que eu cancele, o motorista nunca olha a foto. enfim, vou pagar passagens inteiras até o final do semestre. legal, né? pois é, meu pai também ficou muito feliz ao saber. ele me chamou até de irresponsável. se ele tivesse assistindo aquele jogo... eu juro que ele nunca mais diria que eu só sei dormir.

- jogou demais, cara. jogou demais!
- dobradinha mágica, ein? a gente tá parecendo a dupla de ataque do atlético.
- é, nem tanto...

e é isso. apesar de todas as marcas pelo corpo, da carteirinha perdida, da vontade de dormir por dois dias e de todos os apectos negativos, aquela foi a noite mais memorável dos últimos anos.
e, como eu disse aquele dia, o que a campininha une, ninguém separa.
se quiser nos assistir jogar daquele jeito outra vez, é só pedir aos céus que o atlético ganhe de seis a zero, que o júlio esteja com fome e com bolha no dedão, que eu esteja com a bermuda rasgada e que o time dos nervosinhos esteja ainda mais nervoso. lógico, precisaremos de sorte e de tênis novos.

- quero só ver, andré. amanhã eu te pego, viu?
- que nada, cara, pra quê isso? amanhã eu deixo você ganhar e ainda pago um suco. fica bravo não tá, gordinho?

segunda-feira, 17 de março de 2008

pilcin, né?

uma breve palavra, que abriu todos significados que ela mesmo produziu. oito meses e muita história pra contar. todas as conversas por telefone, que eram mais comuns no começo, tornou isso mais forte, ainda mais.
aquela identificação assustadora, aquele mesmo brilho no olhar. o gosto musical, a marca de cerveja preferida, o jeito de falar e o modo como levamos a vida. a universidade, o time, as escolhas amorosas e tudo que isso gera. há muito mais do que um simples brilho, acredite.

não canso de olhar o jeito, as formas, a bela forma. é quase agressiva.
quando olha de lado, por cima do ombro. quando fala com sua voz dessonante, que causa gargalhadas e encanta pela doçura.

sempre ali, ao meu lado. sempre. dizendo coisas boas, sinceras, verdadeiras. sempre meio alegre, meio triste. com o olhar meio defensivo e com aquele óculos que eu acho tão sem razão de existir.
e, sobre olhar, acho que ela já notou. meus olhos não conseguem desgrudar dela, e fico vagando pelas formas, pelo ombro e pelo sinal na orelha.

e ela já disse que me ama. disse sim. disse em um dia, quando eu tava lá no sul. e eu quase explodi de felicidade, sabe? a importância que eu dou a ela é algo assustador. mas, não consigo entender a razão do meu frio trato e da minha falta de sensibilidade.
lembra da primeira vez, né? não custou nada, tocou aquela banda de brasília que eu tanto gosto. você tava com aquela bermuda desbotada, e com uma cerveja na mão. ao lado do meu amigo gordinho, vocalista da melhor banda de goiânia. do nada, você fala e me deixa levemente corado na região das bochechas. foi meio mágico, meio trágico. assim como aquele show que terminou mal, com a gente brigando. ficamos sem nos falar por uns dias, depois tudo voltou ao normal, com muita catuaba, diga-se de passagem.

eu nem sei como isso vai acabar, nem sei como começar. nem sei se vai começar, se as pessoas estão certas e se eu sou mesmo um grande palerma. não sei se isso vai prejudicar todo o sentimento que já é tão bem guardado, nem se o sentimento vai crescer. só sei que isso martela minha cabeça, e que hoje eu vou ligar pra ela. não vou dar toquinhos no celular, não senhor. vou ligar mesmo, e passar um bom tempo ouvindo a voz dela com a mão na testa. e que seja bom, assim como o macarrão requentado.

segunda-feira, 10 de março de 2008

''traz mais uma, jovem!''

é complicado ficar sempre olhando pros próprios pés, sabe? o dia inteiro, meio calado, meio chateado. reclamar, fumar, falar sobre problemas, estudar pensando nos problemas, falar com o problema e não tocar no problema. é tudo um grande circo, compreende? você, rindo da minha cara. e eu, com o nariz vermelho e com aquela torta, que teima em ser atirada com mais e mais força. as pessoas olham pra você, perguntam o que há. você, nem você sabe. e depois de falar tudo aquilo, você não recebe uma linha como resposta. sabe o que é pior que receber uma negativa como resposta? é, é ser ignorado. é ser feito de reserva, de produto para a manutenção de afeto. esse é o problema. nada conta, né? afinidades e promessas, fincadas no latão de lixo mais próximo.
é, deve ser bom ter alguém assim. alguém que fala o que se quer ouvir, que você tem ali, sempre pronto pra pegar um ônibus e seguir atrás do primeiro estalar de dedos. um cãozinho de guarda, que fica te babando e lambendo suas mãos. um bobo, que faz palhaçadas pra merecer seu sorriso. é isso. é muito ruim. ser o reserva, o próximo, o seguinte, o da fila.
é mais humilhante que um tapa, daqueles que fazem barulho. e sabe o que é pior? é que se você sair de perto, pronto. ela corre atrás. é aí que a pergunta surge: ser assim é bom, né? é, deve ser, mas isso fica pra quem não sente nada além do desejo sexual. eu, infelizmente, penso com a cabeça superior.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

eternidade e mais mil anos

só tenho a agradecer, viu? cerveja, sinuca, sol forte, pessoas com belos cérebros, clima de domingo, né?
aqueles olhares mais que fraternos. aquele jeito de saber o que o outro pensa, sente e vai falar. sabe como é? tudo melhora, tudo mesmo.

noites comemorativas, na escadinha do mercado, com pingorante de meio grapete, entende? amigos antigos, estudiosos, viajantes... amigos. os dreads, a calvice anunciada do programador frustrado, que virou cientista político, o pé torto do futuro ''adêvogado'', a saudade de uns, a alegria de outros.
no caminho de casa, a conversa em espanhol com o viajante. é pena, mas fazemos isso bem pouco.
seremos boas pessoas, com certeza.
um será professor, o outro também. e o outro, se sobroviver ao mundo caótico, também. seremos apreciadores de bons charutos, teremos belas esposas, filhos correndo no jardim e um belo carro, pra não ter que correr até o posto mais próximo e comprar passagens de ônibus.
se não fosse a saudade, eu diria que tudo está perfeito.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

eu também sei ser negativo


ao contrário do que sempre faço, prefiro ser negativo. pelo menos dessa vez, né?
é, é sobre aquilo mesmo que eu quero falar. pessoas mesquinhas, falsas e sem muito cérebro. sabe como é, né? você dá uma chance e uma breve conversa se torna motivo de piada, registros se espalham e você passa a ser um objeto redondo, vermelho e com um buraco no fundo. você passa a ser um acessório, que você mesmo vai usar. mas, claro, outras pessoas irão pegar você emprestado, colocarão você no nariz e dirão que estão engraçadas, por conta desse objeto, o alvo do riso. é, não basta agradar. não basta ser sincero, escutar lamúrias, ser paciente e dizer-se amigo. não, não basta. é preciso se deixar influenciar, né? é preciso pegar chuva, andar de madrugada pelas ruas, passar frio e fome. é preciso ser idiota.

eu posso falar abertamente, não posso? afinal, cérebro, lá pelas bandas da região dessas pessoas, é algo raro. e é isso, é justamente isso. eu lembro como se fosse ontem das palavras do barba ruiva, quando estávamos sob a mesma chuva fina, ''tudo que não mata acaba por fortalecer''.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

quereres!

é nesse curto espaço de tempo, nesse intervalo que existe entre a fala e o pensamento, que os seres se entendem. é no gesto, no morder de lábios, no jeito que o cabelo cai sobre a testa, sabe?
é algo simples, muito simples.
é a vontade de ficar junto, de ter um pouco de paz, de ser melhor. é o jeito de falar, o jeito calmo e sereno de falar. é a amizade, as brigas, o espaço que separa as casas, as ruas, a chuva. santa chuva!
o jeito que tudo se faz, o mistério envolvido nisso... genial, né? é o silêncio, o longo e consumidor espaço entre as falas, entre os olhares. é como se tudo indicasse um caminho, tudo mesmo. é como se a rodovia fosse de mão única, o único destino é aquele. tudo, todos, nós e outros.
levar assim é cansativo em demasia. o que resta é o que sempre sobrou, aquilo que a gente sempre teme. aquele sentimento de insegurança, de incerteza. é aquele frio na barriga, aquela mão gelada, aquele biquinho ao falar, aquela frase com sonoridade engraçada.
e é isso, né? eu gosto de ser assim, acho que gosto. é bom se perder, se achar, voltar a se perder... definir isso seria limitar algo que não tem nada de formal, nada normal, nada de filme americano.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

reveillon regional

acho que minha tarefa mais difícil seria retratar aquela cena, no meio da festa. mas, tá, vamos lá. imaginem uma casa, com várias pessoas, com uma mesa gigante e com todo mundo de branco. agora imagem uma janelinha de vidro, um pouco afastada da mesa, um sujeito com jeito de bêbado, com os olhos vermelhos, com uma roupa suja e com o cabelo bagunçado.
esse sujeito se aproxima da janelinha, olha pra tv e vê os fogos. ele volta a olhar pra janela, e o céu parece estar meio triste, meio fechado.
sabe como é, né?
sabe quando eu passo a mão na barba, olho pra cima, coço o ombro esquerdo com a mão direita e digo: ''é, mais um ano...''.
pois é, é justamente isso. é justamente isso que eu fazia naquele momento.

acho que a saudade, com a decepção e a tristeza causa vontade de ficar deitado, sono e falta de fome. falta de fome, logo aqui. eu, que sou vegetariano, ando sofrendo um bocado. todos os dias há churrasco, muito churrasco. e eu lá, com meu arroz e minha salada com maionese. até em velório eles serve carne. o defunto lá, estendido na sala, e o povo falando do grêmio e comendo carne. é triste.
nas grandes reuniões familiares, ele sempre brigam. acham que é desfeita não comer a costela de boi, e fazem de tudo pra que eu me sinta o sujeito mais imbecil do mundo. aquelas carnes, enfiadas em espetos, passando na minha cara. o bom é que eles bebem. e bebem muito, viu? bebem feito gente grande! e eu, logicamente, acompanho. é, acho que não gostaria de viver aqui. tem cerveja, mas falta muita coisa.


e é isso, né? ano passado eu estava santa catarina, esse ano estou no rio grande do sul. tomara que ano que vem eu esteja no paraná, pra assim mudar de vez de região.