quarta-feira, 4 de março de 2009

texto impensado sobre cerveja, cadeados e ypiocas

partindo de um ponto comum, devo dizer que isso anda bem estranho.
essa coisa toda de gostar, de expressar o tal gostar e de gaguejar na hora do confronto sempre fez parte da minha rotina. acho que eu montei tão bem as falas que elas acabam sendo perfeitas demais, entende?
gostaria que soasse naturalmente verdadeiro, mas vejo que não passa de plano. plano falho, ato falho, gago de merda!
ser durão nunca se fez tão necessário. ser irracional mesmo. partir pro ato sem medir muito, pensar no ato em si. fazer e deixar com que tudo simplesmente se dê.
não ler o texto duas, três vezes antes de publicar. não ficar com toda essa frescurinha de maíusculas depois do ponto final. isso me irrita, mas sempre faço questão de fazê-lo.
o problema é que a irritação apareceu, e a impaciência também. ter vontade de socar algo se tornou totalmente normal, e eu não ando mais me importando com o tamanho da minha barba. deveria colocar um 'maldita' antes de 'barba' só pra parecer durão? não, caras durões não usam palavrões sempre. palavrões ficam para caras que querem ser durões, e não para os durões de fato.
a vontade de beber, ligar e despejar tudo pelo telefone mesmo muito me agrada. mas a idéia de que isso pode me custar caro, financeiramente mesmo, já não é lá muito boa...
quero ser durão, mas fico cantarolando musiquinhas que falam sobre gaivotas. quero beber, mas meu dinheiro dá pra duas doses de ypioca. quero uma garota.
aliás, só quero uma. e há tempos que eu não penso em muita coisa além disso.
tomei 6 cervejinhas, e o mundo parece ainda mais morto. parece que isso só me ajuda a viver, ou a morrer.
e escrever com nexo quando se está bêbado já não é tãããão importante.

cruzando torto a esquina
cheirando a charme e azeite
a sua cerveja acabou
mas isso só
é detalhe influente
é um bebum descontente

ele não tem cabelo grande
nem cadeado no pescoço
ele é só mais um que você viu
perdido e torto
sem olhar de fuzil

não solta da minha mão!

Ao fim de um longo corredor há uma janela, pela qual a claridade entra. O telhado, que provavelmente cobre a garagem, é de folhas de zinco e reflete a luz de um modo irritante.
A psicóloga do hospital, muito bonita por sinal, ajudou a me acalmar e foi ela quem me deu as primeiras notícias.
Quando a coisa em si aconteceu, encostei a cabeça na junção das paredes e deixei as lágrimas correrem. Fiquei ali, enquanto um jovem médico se desesperava e dizia:
- Rápido! Rápido!
Depois de uns anos, rezei. Disse duas frases rápidas, ao lado da saída da UTI, e me senti ainda mais fraco.
- Se você realmente existe, tira meu velho dessa!
- E que seja feita a sua vontade, amém.
Só conseguia fumar e olhar pro relógio, e a certeza de que ele ficaria bem se concretizou.